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O curso visa fornecer os instrumentos metodológicos para o estudo da génese das obras literárias modernas e contemporâneas. Os objetivos específicos são:

  • Oferecer um enquadramento histórico-cronológico da crítica genética na Europa, a partir da critica delle varianti italiana e da critique génétique francesa, e refletindo sobre o estado da arte da disciplina em Portugal.
  • Aplicar as reflexões e as metodologias apresentadas para a análise genética de obras de Eça de Queirós, Fernando Pessoa e Armando Côrtes-Rodrigues.
  • Dar espaço à participação ativa dos estudantes, aos quais serão fornecidas imagens de manuscritos originais para pôr em prática as metodologias estudadas e efetuar propostas de interpretação das variantes textuais.

O programa do curso articula-se em três partes:

A primeira parte será dedicada ao enquadramento histórico-cronológico das duas disciplinas que impulsionaram os estudos de crítica genética na Europa no século XX, a critica delle varianti italiana e a critique génétique francesa. O enquadramento sobre as disciplinas não servirá apenas o propósito de ter conhecimento do contexto europeu em que, a partir do final dos anos 80, os estudos de crítica genética tiveram desenvolvimento em Portugal, mas terá como objetivo principal examinar conceitos e modelos teóricos fundamentais para os casos de análise genética que serão apresentados na segunda parte do curso.

Especificamente, será posta a tónica sobre o modelo teórico do crítico italiano Gianfranco Contini e a sua noção de sistema para o estudo das variantes autorais, de acordo com a qual se propõe uma visão do conjunto das variantes textuais enquanto um sistema unitário e orgânico no interior do qual individuar constantes e variáveis que possam ajudar a definir as especificidades do usus scribendi de um autor.

No seio da critique génétique francesa, por sua vez, a reflexão focar-se-á especialmente nas noções de exogénese e endogénese, isto é, da articulação entre intertextualidade e génese na interpretação hermenêutica de uma obra literária, para o exame dos procedimentos através dos quais os autores integram fontes literárias extratextuais durante o processo de escrita.

A segunda parte do curso visa apresentar casos concretos de estudo de variantes autorais de três autores da literatura portuguesa dos séculos XIX e XX: Eça de Queirós, Fernando Pessoa e Armando Côrtes-Rodrigues. Em específico, a análise articular-se-á em torno de 1) a obra O Mandarim, de Eça de Queirós; 2) a produção poética de Fernando Pessoa publicada em vida e 3) a produção teatral de Armando Côrtes-Rodrigues.

A heterogeneidade da produção literária destes três autores permitirá observar o processo genético de obras de géneros literários distintos – prosa, poesia e teatro – oferecendo desse modo a possibilidade de refletir sobre os diferentes mecanismos que entram em jogo na génese de uma obra de acordo com a especificidade da mesma e de refletir sobre a articulação das metodologias da análise genética com os elementos distintivos de um texto literário.

Adicionalmente, será possível refletir sobre variantes textuais introduzidas por estes autores em fases distintas do processo genético das obras, desde as fases iniciais de textualização até às correções introduzidas numa fase posterior à primeira publicação.

Finalmente, os estudantes serão convidados a apresentar propostas de leituras hermenêuticas de variantes textuais a partir de documentos originais e com base nas práticas metodológicas examinadas durante o curso. As propostas de interpretação individuais serão objeto de uma discussão partilhada em que será promovida a reflexão conjunta sobre as categorias interpretativas convocadas para o estudo das variantes autorais.

Mais informações: https://www.fcsh.unl.pt/outros-cursos/nos-bastidores-da-criacao-literaria-ler-os-manuscritos-modernos/

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